quinta-feira, 2 de junho de 2011

Velho filme

Eu quero olhar da janela e ver no horizonte aquilo que há tempos já não é mais meu presente.Quero ver entre a as nuvens e o mar aquele gosto de inocência que não mais sei como é. Saborear cata gota de mim que deixei por onde nem sei se passei.
Quero sentir o gosto dos almoços de domingo , onde eu brincava de forma sincera... naquela época eu nem imaginava que um dia eu não mais brincaria com tanta ingenuidade.Espero que eu ainda me lembre das minhas tantas birras e manhas por coisas pequenas e gostosas de lembrar-se de forma tão viva, e interna.
Nessas fotografias já desgastadas eu quero sentir o cheiro da infância e o gosto de cada lembrança.
Lembrar-me do primeiro dente caído, do primeiro amigo, do primeiro amor, da primeira briga, da primeira festa, e de todos os malditos primeiros que sempre nos marcam.
Queria lembrar-me de tudo que passou. Ah, as coisas realmente passam, às vezes nós nem percebemos, mas mesmo assim elas passam. Aquilo tudo passou, e isso tudo continua passando. Eu passei. E passo mais e mais a cada momento.


Passar assusta, permanecer também.

E as fotografias permanecem vivas na minha memória. Eu sinto dentro do tempo o tempo todo que está dentro de mim. Maldito tempo. Antes ele não fosse assim tão traiçoeiro, assim tão passageiro. Antes ele fosse algo tão diferente do que é, que eu nem posso descrever. Descrever… Realmente eu jamais poderia descrever tudo isso que há dentro de mim. Tudo é tão meu que parece nem ao menos saber como sair de mim, está preso de dentro para dentro. É como se eu fosse tudo isso que eu guardo e que ninguém pode ver.É como se eu não fosse o que sou porque tudo o que sou só eu sei ser, e só pra mim.
Eu ainda estou cá, a olhar o horizonte sem fim. Agora quero lembrar-me de cada parte que eu vivi ao seu lado. Foi você, o primeiro a me dar as mãos e sentar-se ao meu lado naquela calçada. Faz muito tempo, mas eu ainda sinto seu cheiro nessa frase, sinto seu corpo nessas palavras. Foi você que de repente, decidiu me ouvir falando de mim durante todos os dias e eu aproveitei e falei muito, nunca mais parei de falar. Você me ouvia e olhava dentro dos meus olhos, vendo cada parte de mim em tudo que eu falava. Minha profundidade sendo exposta e ameaçada por todo aquele carinho seu que me assustava.E esse tempo já passou e isso realmente faz tempo. E a cada minuto isso se concretiza mais dentro de mim. É como se a ficha fosse caindo aos poucos. É como se dentro de mim eu soubesse que nada passou, mesmo por fora tendo passado. Mas eu queria que você ainda estivesse aqui, sentado do meu lado segurando a minhas mãos em alguma calçada. Eu queria que você ainda me escutasse falar de mim como um dia você escutou, eu queria saber falar tanto de mim pra alguém como só pra você eu falei. Você não deve nem se lembrar disso, eu só sei que não te esquecerei.
E depois de tudo, um cochilo. Cochilo que me fez sonhar e me imaginar num filme. Esse que eu acabei de contar.

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