sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Do que foi feito da despedida

“ Foi amante entregando-lhe outra amada.
Foi covarde que amando nunca amou”

Minha confusão não vai passar de confissão.
 Deixamos para amanhã aquele sonho colorido, pois hoje estamos ocupados pintando outras realidades. 
E na sombra do riso alheio, ali, bem na margem, eu caminho pra me atirar. Sem pretensões de que seus braços aparem a queda. 

Fechei os olhos. Senti um beijo. Mas na verdade foi o vento forte, que acabou por fechar a janela.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Enfeitando o detalhe

Amor assim, derramado demais, sempre me gerou desconfiança... 
os excessos, o peso, a responsabilidade de manter.

Onde foi parar o castelo antes intacto na beira da praia?

Amor assim, escorrendo demais, só podia ser furada. Porque escorre entre os dedos com a mesma rapidez que molha as mãos. 

 Amor é essencial, mas continua sendo detalhe. 
Sabe a cereja que não pode faltar?
 Quantas histórias pra escutar e entender que não necessitamos de ninguém para sobreviver? Amar é um simples querer. Nos temos porque queremos a presença que faz bem, o beijo que acalma e acelera. Aquilo tudo que descompassa. 

Sabe o granulado no brigadeiro? Então...
Amor é quase isso, só que bem mais gostoso. 
É vida que pode partir. 
É simples como um obrigada depois de um favor.. que a gente sempre espera, mas as vezes não vem de quem achavámos que viria. 

Amor não é buquê. Amor é broto. Porque é expectativa. 



Cultive o seu!  
 

Na partida sempre se esquece alguma coisa






Ouve... já houve dias que o amor foi tão intenso que transbordou. E só há mal nisso quando transborda em apenas um dos corações. 

Daí transborda água salgada. 
Mas o tempo sempre vai, o vento vem e a beleza fica. Fica porque a gente sempre continua tendo a si mesmo, mas de uma forma que querendo ou não foi transformada pelo outro. E mesmo sendo ímpar, sei da importância de crescer, cultivar e padecer das dores e alegrias de ser par. 

É difícil não pensar em nada,  lembrar sempre machuca um pouco. Mas românticos que somos, sempre damos um passo à frente sem lembrar quão doloridas foram as noites passadas. 
Guardei o que vale a pena lembrar.
Vivamos! 


A felicidade continua aqui, e cabe dentro dos meus olhos.

domingo, 13 de novembro de 2011

Em menos de 5 linhas

A troca foi tão curta, tão rápida, inesperada... mas ainda assim foi válida, porque desde sempre foi o coração falando e o corpo obedecendo.
Ainda há muitas coisas por dizer, mas as breves linhas só existem porque há pressa em ir ali te encontrar novamente.

domingo, 30 de outubro de 2011

Onde me levarão todas essas coisas que começam errado?

Quem pra dizer se é a hora, o lugar, a oportunidade única?
Quem pra sentir esse por cento de vida que grita e se agarra à qualquer esperança de respirar sem pausas?

Sempre tem uma nova linha esperando para ser escrita.
Novas palavras, jamais usadas por mim. 

Há sempre uma nova rima... uma maneira diferente de organizar os mesmos sentimentos.
E dessa forma as pessoas lêem achando que se trata de uma nova aventura. De um novo caso.
Mas eu sei que não.
A história se repete incansavelmente. 

Andamos com os mesmo anseios, mesmas preocupações.
Tem sempre alguém surgindo, alguém partindo. Outros simplesmente tomando direções opostas. 

Não sei quantos antes de mim pra perceber esse ciclo doentio.
                            
(...)
Estou saindo pela tangente. Estou tentando ser gente.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Sobre coisas que ficam mesmo sem querer.

O menino loiro chegou com ares de graça, de que tudo sabia. Um pouco de tudo falava.
- Desconfio que era pesquisa, só pra me surpreender. 
Ele não veio à cavalo, nem jogava pedrinhas na janela. Intenso que era, a arrombava, por  não gostar de sossego: de longe eu escutava a escola de samba dentro do seu peito. 
- Eu dancei conforme a música, e fechei os olhos enquanto isso...
O menino loiro nem era tão loiro assim. Em parte, aquilo era tinta. Tinta de dar vergonha frente aos outros. E ele ria de si mesmo. De mim, E de todo o resto.
Mas com propriedade digo, que sendo revoltado, vez ou outra ele sentava na calçada, com as mãos segurando a cabeça, que de tão pesada, parecia que segurava o mundo. Da minha janela eu sempre enxerguei, muitas vezes mais do que eu queria e suportava ver... 
Dava voltas no quarteirão, as vezes tão demoradas, que eu até acreditava ter partido de vez, para outra rua. Outra janela, talvez. Mas ele sempre chegava, com tanto por falar da vida, das pessoas que encontrou... 
Ele é longe. E tão parecido com tudo o que eu sou. Desconfio que ele sempre foi minha versão masculina. Mas seria egocentrismo demais amadurecer a ideia de que consegui me apaixonar por uma versão de mim mesma? 

E mesmo tendo ido, sem querer sem lembrança, ele ficou em mim. Não por ter deixado nada, e sim por me ensinar a música que outrora tocava dentro do peito dele. 
- Agora não é mais o que ele foi. E sim o que passei a ser depois dele. 



Porque tem gente que vem pra ser resposta para todas as nossas perguntas tortas, e a vontade que dá, é de ter dúvidas a vida inteira. 

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Eu falo de dar as mãos e não soltar nunca. Mesmo que suem, mesmo que doam, mesmo que cansem... entende?!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Eu me desfaço a cada olhar, e despedaço na partida.

Deixa eu me embaraçar ao tentar explicar sentimentos, e ver você sorrindo de mim e para mim.
Deixa o nosso riso fácil ser sempre rompido por um beijo demorado, daqueles que só nós sabemos.

Se eu souber das suas angústias, e adentrar no seu mundo particular, prometo curar dores com beijo gelado de sorvete de flocos...


Deixa eu descansar meus olhos na sua imagem, em todo fim de dia... e eu garanto sonhar e acordar, só pra te ver outra vez.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Convite

Ando apressadamente, ainda que com pernas curtas.

Onde meu corpo me leva que não seja seus braços? Em quê minha cabeça se ocupa que não seja seu riso fácil? O que minhas unhas buscam se não arranhar suas costas macias?

Você me viu passar, e eu nem olhei em sua direção. Corri. Fugi sem malas. Sem avisar para ninguém. Os amigos vão me procurar, e meus superiores reclamarão minha ausência...

Mas dessa vez eu fui. Sem olhar para os lados, para que não corresse o risco de voltar desolada para o nosso canto. Fui sem pestanejar, sem cumprimentar. Sem bagagens de lembranças. Guiada pelos céus, mas não pelas estrelas.


E mesmo que não encontre o que procuro ainda assim hei de encontrar qualquer coisa que não seja passado.

O amanhã me convidou.

Ainda que...

Criando válvulas de escape toda manhã, continuo caminhando, ainda que sozinha. Ainda que no escuro. Ainda que...

E todo pequeno motivo, já é motivo para te esquecer. O café derramando, o fogão sujo, as contas, a tv. As roupas por lavar, o riso a distribuir. O despertador que não tocou. Te esqueço em cada pequeno gesto.

Mas a cabeça manipula quando menos espero, e acontece toda noite, quando fecho os meus olhos e deito naquela velha cama: sua imagem me vem espontaneamente... e eu me perco, e eu abro os olhos, e eu peço em uma prece apressada e sem jeito que o sono chegue logo, e que eu me descubra atrasada mais uma vez para o trabalho...

Mas não se preocupe. Já não te lembro como nas antigas fotos, com o riso largo, com a cabeça cheia de planos. Te lembro apenas. Sem feições, sem afeto nem desafeto. Te lembro apenas, do jeito que imagino que você queria: sem saudades, sem rancor.

Isso sim é a angústia: não sentir nada, quando deveria sentir tudo.

Ainda que você soubesse , ainda que você sentisse o mesmo, nada se faz com coração vazio.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Sobre aquele que é luz.

Daquele dia em diante o coração é só leveza. Que de tão leve não tem dor, nem carrega curativos. 

Com você a ferida pode ser exposta, que nem assusta. E  faz questão de mostrar as suas cicatrizes. Afinal, as minhas também serão assim um dia. 

Sentir muito, sem sofrer. É sempre cedo pra dizer, porque a vida é cheia de esquinas e em cada uma delas uma nova surpresa. Mas ando confiante que você estará nas próximas estações. Tem cara de quem leva jeito pra ser pra vida toda, como amigo, amante e cúmplice. Como um apaixonado. 

Sorri gostoso. E é simples no que diz. Sim, ele sabe como me fazer feliz.

O dia nasceu pra ser cinza. E vem você com essa luz toda, querendo provar o contrário.
Rifa-se um coração.
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.
Um pouco usado, meio calejado e um pouco inconsequente.
Um leviano e precipitado coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu:
"... não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero..."
Rifa-se um coração que não endurece, e mantém viva a esperança de ser feliz sendo simples e natural.
Um furioso suicida.
Que perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
As vezes tão incompreendido...
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se um desequilibrado emocional
Que abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando tempo, defendendo-se das emoções.
Rifa-se um inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco seu usuário.
Troca-se por um órgão mais fiel, um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado.
Rifa-se um coração que não foi adotado.
Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um modelo cheio de defeitos que mesmo estando fora do mercado não faz questão de se modernizar.
Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta.

Clareando com Clarice.

Menininha




Menininha que graça é você
Uma coisinha assim
Começando a viver
Fique assim, meu amor
Sem crescer

Porque o mundo é ruim, é ruim e você
Vai sofrer de repente
Uma desilusão
Porque a vida é somente
Teu bicho papão


Fique assim, fique assim
Sempre assim
E se lembre de mim
Pelas coisas que eu dei
Também não se esqueça de mim
Quando você souber enfim
De tudo que amei.

(Vinícius de Moraes)

domingo, 4 de setembro de 2011

Raphael*

Raphael me vem como setembro, trazendo flores e sol.
Raphael é para dias felizes e leves. Para mistérios e tormentos. É contradição.
É companhia no bar onde rabisco meus poemas que vão parar no lixo.
Leve feito inferno e pesado como um anjo. 

Não tenho medo.
Nem de ser simples ou do esquecimento.

Temo desencontros. 

Raphael me vem como setembro. Perfumado, colorindo.
Mas na minha janela continua a chover... talvez ainda seja agosto. 

Eu poderia seguir a vida como qualquer outra pessoa, em qualquer outra época. Mas atalhos me atraem... não pelo caminho mais curto, mas sim pelas surpresas que escondem.

São riscos.

Mas qual caminho é isento de armadilhas?

Sobre Suzie Q





♪ I like the way you walk, I like the way you talk ♪






sábado, 3 de setembro de 2011

Sobras e faltas

Minha mochila com sonhos, roupas e aspirações esteve pronta desde o momento em que nos conhecemos e eu mergulhei fundo nessa história louca, mas tão atraente. Certo que tudo ainda se encontrava no mundo platônico do idealismo, nada palpável... mas eu sempre achei que fosse questão de escolha, e eu já havia feito a minha.
Já te esperava. Com planos e amor. Já havia me desprendido dos meus sonhos para dar lugar aos nossos.
Foi quando eu descobri que outra já estava a lhe esperar.
Foi quando eu descobri que você não viria.

Desculpe. Sobram sentimentos, o que me faltam são palavras.  


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Passagem da solidão


Sigo esvaziando garrafas à espera dos passos. Posso senti-lo no ar, posso senti-lo na ponta dos dedos, posso ver calçadas construídas para seus pés caminharem, posso ver travesseiros para sua cabeça, posso sentir a expectativa da minha risada, posso vê-lo dormir, posso ver seus chinelos no chão. Pequenas gotas de você pingando na poeira. Sei que alguma noite em algum quarto logo meus dedos abrirão caminho através de cabelos limpos e macios. Quando me penso morta penso em fazer amor com você . É tudo tão confortável — esse fazer amor, esse dormir juntos, a suave delicadeza… outra cama outro homem, mais cortinas, outro banheiro outra cozinha outros olhos outro cabelo outros pés e dedos. Essas orelhas, esses braços, esses cotovelos, esses olhos olhando, o afeto e a carência me sustentaram. Não sou uma boa cozinheira, mas sou uma boa ouvinte. Me sinto bem melhor agora. Dediquei-me às palavras difíceis que sempre tive medo de dizer e podem agora ser ditas: eu te amo como uma mulher ama um homem que jamais tocou, para quem apenas escreveu, de quem manteve algumas fotografias. Mando a cerveja goela abaixo, peço uma bebida forte rápido para adquirir a garra e o amor de continuar.  Eu sairei e esperarei por você.

Cortes, emenda e adaptações.
Do inusitado Charles Bukowski

Parei pra pensar um pouco, e enxerguei tudo aquilo que você não me disse.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Reflexo

Ela ainda chora contraída, pulsante, e respira como quem tenta parar de existir e não consegue. Então usa as mãos pra gesticular e limpar o rosto molhado; Foi apenas uma distração e já estava assim, como uma estranha em seu corpo. 

Eu encontrei um amor em mim. Bem aqui, diz. 

Não sabia dizer com precisão desde quando ele escorregava entre todos os seus órgãos com o poder de dominá-los. Ainda vejo naquele rosto branco o mesmo medo, assombrado da estupidez humana. Uma contração que oscila entre criatura recém-nascida e prestes a morrer. É tudo a mesma coisa, ela diria, esses extremos levam sempre ao mesmo abismo. E eu respiraria fundo pra não me deixar levar pelo sorriso, pela mão que desliza na cintura, pela fumaça impregnada nos cabelos. De uma forma ou de outra, estamos condenadas, eu sei.

Somos duas pessoas sem solução. 
Meu reflexo e eu.

sábado, 27 de agosto de 2011

Distância

Nunca mais você ouviu falar de mim
Mas eu continuei a ter você
Em toda esta saudade que ficou ♪

 Roberto Carlos

.

É porque ainda não existe quem me faça sonhar e preocupe-se em realizar comigo.
 Ainda não me ligam ou me procuram nos meus momentos de fraqueza.
Quando há compromissos os cinco minutos a mais nunca são possíveis.

Você já teve um daqueles dias ruins? 
Talvez só um whisky para acompanhar. Porque nunca existirá alguém. 

Eu, vítima eterna das circunstâncias.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Hoje ele disse...


Querida...
É com peso na alma que escrevo essas poucas, mas sinceras linhas, que formam-se com o objetivo de engrandecer esse laço que nos une, mesmo que a princípio a impressão não seja essa.
Não devemos falar de amor como dois adolescentes que só esperam o amanhã. Que se paltam em uma vida e em momentos tão incertos. Façamos jus ao presente.
Não quero que com isso a gente se afaste, ou que exista raiva entre o que algum dia planejamos ser.  Só espero que entenda que este não é o meu momento, não estou preparado e nem sei quando estarei  para dividir e em seguida ser soma.
Sinto muito.
Espero resposta. 

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
 Resposta: Que seja assim...
-- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - - - -- - - - - - - - - -- - - - - - - - - - -- - - - - -
Não foi difícil responder. O difícil está sendo destruir castelos que permeiam em minha memória.

Se me permite: adeus amor.

Síndrome de Sexta-Feira


O dia amanheceu como todos os outros. As pessoas vestem as mesmas roupas, e comportam-se com uma euforia um pouco mais aguçada. Começam os planos intermináveis como se segunda-feira não fosse chegar daqui a pouco...Se informam da previsão do tempo. Tiram dinheiro da conta bancária.
Diga-se de passagem que eu não faço parte dessa manifestação de sexta-feira, meu bem. E você sabe bem o porquê. Não há diferença entre os dias da semana se tudo o que me acontece de melhor eu faço em todos eles: sonhar com você.
Não há presença, pele, nem convites. O que me convém não me vem. Quem eu quero não me tem. E é nesse impasse que vivo:  é tudo normal de segunda à domingo até que você me prove o contrário.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A moça do sonho


Súbito me encantou
A moça em contraluz
Arrisquei perguntar: quem és?
Mas fraquejou a voz
Sem jeito eu lhe pegava as mãos
Como quem desatasse um nó
Soprei seu rosto sem pensar
E o rosto se desfez em pó

Por encanto voltou
Cantando a meia voz
Súbito perguntei: quem és?
Mas oscilou a luz
Fugia devagar de mim
E quando a segurei, gemeu
O seu vestido se partiu
E o rosto já não era o seu

Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não
Por ali reinaria meu bem
Com seus risos, seus ais, sua tez
E uma cama onde à noite
Sonhasse comigo
Talvez

Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás
Se eu pudesse encontrar meu amor
Não voltava
Jamais

Chico Buarque 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

De uma só vez


Quando o que eu quero é ir embora, a tal da esperança agarra-se aos meus pés, impedindo que eu avance de uma vez por todas. Mas apesar de paralisada, sei o que o tempo se esvai cada vez mais rápido... 

...e eu tenho pressa, pressa de virar as costas, ir embora.

E isso sempre acontece por causa de um espaço que foi reservado, mas não preenchido. Por uma frase que não era pergunta, mas que nas entrelinhas esperou uma resposta.

Eu vou virar as costas uma só vez. E não vou voltar.

É que enquanto você sonhou com um mundo melhor, eu fui a parede para amortecer as conseqüências das suas aspirações. Fui eu quem acendi a luz quando você pensava estar cego, e também fui eu que a apaguei quando a verdade desse mundo te doía. 

Eu já estou quase por passar a porta...

Faço figas com os dedos que encontram-se dentro da minha blusa de moleton, para quem Sabe você me puxe pelo braço e me questione uma só vez como é que tudo está dentro do meu peito. E eu não me pouparia em dizer o quanto dói saber que você é a faca cravada, que me perfura cada vez mais adentro toda vez que tento me agarrar a um fio de esperança de me saber forte se o dia amanhecer sem você. 

Eu já passei da porta. E o vento que bateu a fechou lhe poupando o trabalho. 

E se puder feche as janelas, faça uso das cortinas. Não quero em um ato de fraqueza voltar correndo para os teus braços de anjo que tanto sabem me acolher.
Levo na bagagem nosso amor tranqüilo. E vou deixar que o mesmo vento que te trouxe, te leve para onde suas asas quiserem. 

Adeus amor.
 
Obs.: é que meus ouvidos teimam em manter-se atentos na espera de mais um sussurro.