quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Sobre coisas que ficam mesmo sem querer.

O menino loiro chegou com ares de graça, de que tudo sabia. Um pouco de tudo falava.
- Desconfio que era pesquisa, só pra me surpreender. 
Ele não veio à cavalo, nem jogava pedrinhas na janela. Intenso que era, a arrombava, por  não gostar de sossego: de longe eu escutava a escola de samba dentro do seu peito. 
- Eu dancei conforme a música, e fechei os olhos enquanto isso...
O menino loiro nem era tão loiro assim. Em parte, aquilo era tinta. Tinta de dar vergonha frente aos outros. E ele ria de si mesmo. De mim, E de todo o resto.
Mas com propriedade digo, que sendo revoltado, vez ou outra ele sentava na calçada, com as mãos segurando a cabeça, que de tão pesada, parecia que segurava o mundo. Da minha janela eu sempre enxerguei, muitas vezes mais do que eu queria e suportava ver... 
Dava voltas no quarteirão, as vezes tão demoradas, que eu até acreditava ter partido de vez, para outra rua. Outra janela, talvez. Mas ele sempre chegava, com tanto por falar da vida, das pessoas que encontrou... 
Ele é longe. E tão parecido com tudo o que eu sou. Desconfio que ele sempre foi minha versão masculina. Mas seria egocentrismo demais amadurecer a ideia de que consegui me apaixonar por uma versão de mim mesma? 

E mesmo tendo ido, sem querer sem lembrança, ele ficou em mim. Não por ter deixado nada, e sim por me ensinar a música que outrora tocava dentro do peito dele. 
- Agora não é mais o que ele foi. E sim o que passei a ser depois dele. 



Porque tem gente que vem pra ser resposta para todas as nossas perguntas tortas, e a vontade que dá, é de ter dúvidas a vida inteira. 

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