quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Convite

Ando apressadamente, ainda que com pernas curtas.

Onde meu corpo me leva que não seja seus braços? Em quê minha cabeça se ocupa que não seja seu riso fácil? O que minhas unhas buscam se não arranhar suas costas macias?

Você me viu passar, e eu nem olhei em sua direção. Corri. Fugi sem malas. Sem avisar para ninguém. Os amigos vão me procurar, e meus superiores reclamarão minha ausência...

Mas dessa vez eu fui. Sem olhar para os lados, para que não corresse o risco de voltar desolada para o nosso canto. Fui sem pestanejar, sem cumprimentar. Sem bagagens de lembranças. Guiada pelos céus, mas não pelas estrelas.


E mesmo que não encontre o que procuro ainda assim hei de encontrar qualquer coisa que não seja passado.

O amanhã me convidou.

Ainda que...

Criando válvulas de escape toda manhã, continuo caminhando, ainda que sozinha. Ainda que no escuro. Ainda que...

E todo pequeno motivo, já é motivo para te esquecer. O café derramando, o fogão sujo, as contas, a tv. As roupas por lavar, o riso a distribuir. O despertador que não tocou. Te esqueço em cada pequeno gesto.

Mas a cabeça manipula quando menos espero, e acontece toda noite, quando fecho os meus olhos e deito naquela velha cama: sua imagem me vem espontaneamente... e eu me perco, e eu abro os olhos, e eu peço em uma prece apressada e sem jeito que o sono chegue logo, e que eu me descubra atrasada mais uma vez para o trabalho...

Mas não se preocupe. Já não te lembro como nas antigas fotos, com o riso largo, com a cabeça cheia de planos. Te lembro apenas. Sem feições, sem afeto nem desafeto. Te lembro apenas, do jeito que imagino que você queria: sem saudades, sem rancor.

Isso sim é a angústia: não sentir nada, quando deveria sentir tudo.

Ainda que você soubesse , ainda que você sentisse o mesmo, nada se faz com coração vazio.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Sobre aquele que é luz.

Daquele dia em diante o coração é só leveza. Que de tão leve não tem dor, nem carrega curativos. 

Com você a ferida pode ser exposta, que nem assusta. E  faz questão de mostrar as suas cicatrizes. Afinal, as minhas também serão assim um dia. 

Sentir muito, sem sofrer. É sempre cedo pra dizer, porque a vida é cheia de esquinas e em cada uma delas uma nova surpresa. Mas ando confiante que você estará nas próximas estações. Tem cara de quem leva jeito pra ser pra vida toda, como amigo, amante e cúmplice. Como um apaixonado. 

Sorri gostoso. E é simples no que diz. Sim, ele sabe como me fazer feliz.

O dia nasceu pra ser cinza. E vem você com essa luz toda, querendo provar o contrário.
Rifa-se um coração.
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.
Um pouco usado, meio calejado e um pouco inconsequente.
Um leviano e precipitado coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu:
"... não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero..."
Rifa-se um coração que não endurece, e mantém viva a esperança de ser feliz sendo simples e natural.
Um furioso suicida.
Que perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
As vezes tão incompreendido...
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se um desequilibrado emocional
Que abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando tempo, defendendo-se das emoções.
Rifa-se um inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco seu usuário.
Troca-se por um órgão mais fiel, um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado.
Rifa-se um coração que não foi adotado.
Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um modelo cheio de defeitos que mesmo estando fora do mercado não faz questão de se modernizar.
Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta.

Clareando com Clarice.

Menininha




Menininha que graça é você
Uma coisinha assim
Começando a viver
Fique assim, meu amor
Sem crescer

Porque o mundo é ruim, é ruim e você
Vai sofrer de repente
Uma desilusão
Porque a vida é somente
Teu bicho papão


Fique assim, fique assim
Sempre assim
E se lembre de mim
Pelas coisas que eu dei
Também não se esqueça de mim
Quando você souber enfim
De tudo que amei.

(Vinícius de Moraes)

domingo, 4 de setembro de 2011

Raphael*

Raphael me vem como setembro, trazendo flores e sol.
Raphael é para dias felizes e leves. Para mistérios e tormentos. É contradição.
É companhia no bar onde rabisco meus poemas que vão parar no lixo.
Leve feito inferno e pesado como um anjo. 

Não tenho medo.
Nem de ser simples ou do esquecimento.

Temo desencontros. 

Raphael me vem como setembro. Perfumado, colorindo.
Mas na minha janela continua a chover... talvez ainda seja agosto. 

Eu poderia seguir a vida como qualquer outra pessoa, em qualquer outra época. Mas atalhos me atraem... não pelo caminho mais curto, mas sim pelas surpresas que escondem.

São riscos.

Mas qual caminho é isento de armadilhas?

Sobre Suzie Q





♪ I like the way you walk, I like the way you talk ♪






sábado, 3 de setembro de 2011

Sobras e faltas

Minha mochila com sonhos, roupas e aspirações esteve pronta desde o momento em que nos conhecemos e eu mergulhei fundo nessa história louca, mas tão atraente. Certo que tudo ainda se encontrava no mundo platônico do idealismo, nada palpável... mas eu sempre achei que fosse questão de escolha, e eu já havia feito a minha.
Já te esperava. Com planos e amor. Já havia me desprendido dos meus sonhos para dar lugar aos nossos.
Foi quando eu descobri que outra já estava a lhe esperar.
Foi quando eu descobri que você não viria.

Desculpe. Sobram sentimentos, o que me faltam são palavras.