quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Ainda que...

Criando válvulas de escape toda manhã, continuo caminhando, ainda que sozinha. Ainda que no escuro. Ainda que...

E todo pequeno motivo, já é motivo para te esquecer. O café derramando, o fogão sujo, as contas, a tv. As roupas por lavar, o riso a distribuir. O despertador que não tocou. Te esqueço em cada pequeno gesto.

Mas a cabeça manipula quando menos espero, e acontece toda noite, quando fecho os meus olhos e deito naquela velha cama: sua imagem me vem espontaneamente... e eu me perco, e eu abro os olhos, e eu peço em uma prece apressada e sem jeito que o sono chegue logo, e que eu me descubra atrasada mais uma vez para o trabalho...

Mas não se preocupe. Já não te lembro como nas antigas fotos, com o riso largo, com a cabeça cheia de planos. Te lembro apenas. Sem feições, sem afeto nem desafeto. Te lembro apenas, do jeito que imagino que você queria: sem saudades, sem rancor.

Isso sim é a angústia: não sentir nada, quando deveria sentir tudo.

Ainda que você soubesse , ainda que você sentisse o mesmo, nada se faz com coração vazio.

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