quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Passagem da solidão


Sigo esvaziando garrafas à espera dos passos. Posso senti-lo no ar, posso senti-lo na ponta dos dedos, posso ver calçadas construídas para seus pés caminharem, posso ver travesseiros para sua cabeça, posso sentir a expectativa da minha risada, posso vê-lo dormir, posso ver seus chinelos no chão. Pequenas gotas de você pingando na poeira. Sei que alguma noite em algum quarto logo meus dedos abrirão caminho através de cabelos limpos e macios. Quando me penso morta penso em fazer amor com você . É tudo tão confortável — esse fazer amor, esse dormir juntos, a suave delicadeza… outra cama outro homem, mais cortinas, outro banheiro outra cozinha outros olhos outro cabelo outros pés e dedos. Essas orelhas, esses braços, esses cotovelos, esses olhos olhando, o afeto e a carência me sustentaram. Não sou uma boa cozinheira, mas sou uma boa ouvinte. Me sinto bem melhor agora. Dediquei-me às palavras difíceis que sempre tive medo de dizer e podem agora ser ditas: eu te amo como uma mulher ama um homem que jamais tocou, para quem apenas escreveu, de quem manteve algumas fotografias. Mando a cerveja goela abaixo, peço uma bebida forte rápido para adquirir a garra e o amor de continuar.  Eu sairei e esperarei por você.

Cortes, emenda e adaptações.
Do inusitado Charles Bukowski

Parei pra pensar um pouco, e enxerguei tudo aquilo que você não me disse.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Reflexo

Ela ainda chora contraída, pulsante, e respira como quem tenta parar de existir e não consegue. Então usa as mãos pra gesticular e limpar o rosto molhado; Foi apenas uma distração e já estava assim, como uma estranha em seu corpo. 

Eu encontrei um amor em mim. Bem aqui, diz. 

Não sabia dizer com precisão desde quando ele escorregava entre todos os seus órgãos com o poder de dominá-los. Ainda vejo naquele rosto branco o mesmo medo, assombrado da estupidez humana. Uma contração que oscila entre criatura recém-nascida e prestes a morrer. É tudo a mesma coisa, ela diria, esses extremos levam sempre ao mesmo abismo. E eu respiraria fundo pra não me deixar levar pelo sorriso, pela mão que desliza na cintura, pela fumaça impregnada nos cabelos. De uma forma ou de outra, estamos condenadas, eu sei.

Somos duas pessoas sem solução. 
Meu reflexo e eu.

sábado, 27 de agosto de 2011

Distância

Nunca mais você ouviu falar de mim
Mas eu continuei a ter você
Em toda esta saudade que ficou ♪

 Roberto Carlos

.

É porque ainda não existe quem me faça sonhar e preocupe-se em realizar comigo.
 Ainda não me ligam ou me procuram nos meus momentos de fraqueza.
Quando há compromissos os cinco minutos a mais nunca são possíveis.

Você já teve um daqueles dias ruins? 
Talvez só um whisky para acompanhar. Porque nunca existirá alguém. 

Eu, vítima eterna das circunstâncias.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Hoje ele disse...


Querida...
É com peso na alma que escrevo essas poucas, mas sinceras linhas, que formam-se com o objetivo de engrandecer esse laço que nos une, mesmo que a princípio a impressão não seja essa.
Não devemos falar de amor como dois adolescentes que só esperam o amanhã. Que se paltam em uma vida e em momentos tão incertos. Façamos jus ao presente.
Não quero que com isso a gente se afaste, ou que exista raiva entre o que algum dia planejamos ser.  Só espero que entenda que este não é o meu momento, não estou preparado e nem sei quando estarei  para dividir e em seguida ser soma.
Sinto muito.
Espero resposta. 

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 Resposta: Que seja assim...
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Não foi difícil responder. O difícil está sendo destruir castelos que permeiam em minha memória.

Se me permite: adeus amor.

Síndrome de Sexta-Feira


O dia amanheceu como todos os outros. As pessoas vestem as mesmas roupas, e comportam-se com uma euforia um pouco mais aguçada. Começam os planos intermináveis como se segunda-feira não fosse chegar daqui a pouco...Se informam da previsão do tempo. Tiram dinheiro da conta bancária.
Diga-se de passagem que eu não faço parte dessa manifestação de sexta-feira, meu bem. E você sabe bem o porquê. Não há diferença entre os dias da semana se tudo o que me acontece de melhor eu faço em todos eles: sonhar com você.
Não há presença, pele, nem convites. O que me convém não me vem. Quem eu quero não me tem. E é nesse impasse que vivo:  é tudo normal de segunda à domingo até que você me prove o contrário.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A moça do sonho


Súbito me encantou
A moça em contraluz
Arrisquei perguntar: quem és?
Mas fraquejou a voz
Sem jeito eu lhe pegava as mãos
Como quem desatasse um nó
Soprei seu rosto sem pensar
E o rosto se desfez em pó

Por encanto voltou
Cantando a meia voz
Súbito perguntei: quem és?
Mas oscilou a luz
Fugia devagar de mim
E quando a segurei, gemeu
O seu vestido se partiu
E o rosto já não era o seu

Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não
Por ali reinaria meu bem
Com seus risos, seus ais, sua tez
E uma cama onde à noite
Sonhasse comigo
Talvez

Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás
Se eu pudesse encontrar meu amor
Não voltava
Jamais

Chico Buarque 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

De uma só vez


Quando o que eu quero é ir embora, a tal da esperança agarra-se aos meus pés, impedindo que eu avance de uma vez por todas. Mas apesar de paralisada, sei o que o tempo se esvai cada vez mais rápido... 

...e eu tenho pressa, pressa de virar as costas, ir embora.

E isso sempre acontece por causa de um espaço que foi reservado, mas não preenchido. Por uma frase que não era pergunta, mas que nas entrelinhas esperou uma resposta.

Eu vou virar as costas uma só vez. E não vou voltar.

É que enquanto você sonhou com um mundo melhor, eu fui a parede para amortecer as conseqüências das suas aspirações. Fui eu quem acendi a luz quando você pensava estar cego, e também fui eu que a apaguei quando a verdade desse mundo te doía. 

Eu já estou quase por passar a porta...

Faço figas com os dedos que encontram-se dentro da minha blusa de moleton, para quem Sabe você me puxe pelo braço e me questione uma só vez como é que tudo está dentro do meu peito. E eu não me pouparia em dizer o quanto dói saber que você é a faca cravada, que me perfura cada vez mais adentro toda vez que tento me agarrar a um fio de esperança de me saber forte se o dia amanhecer sem você. 

Eu já passei da porta. E o vento que bateu a fechou lhe poupando o trabalho. 

E se puder feche as janelas, faça uso das cortinas. Não quero em um ato de fraqueza voltar correndo para os teus braços de anjo que tanto sabem me acolher.
Levo na bagagem nosso amor tranqüilo. E vou deixar que o mesmo vento que te trouxe, te leve para onde suas asas quiserem. 

Adeus amor.
 
Obs.: é que meus ouvidos teimam em manter-se atentos na espera de mais um sussurro.

Sem ínico e sem fim.

Ela sabia dos inúmeros compromissos que ambos tinham para o dia seguinte: um trabalho a comparecer, formalidades a cumprir, algumas pessoas a encontrar. Certo, que nada disso os despertava a vontade, mas apesar de poetas loucos eles se sabiam comuns. 
Mas ela não conseguia dormir. A chuva caía insistentemente lá fora, a música em volume baixo dançava naquele quarto sob a luz de um abajur. Já foram um, dois, três comprimidos. Já foram quatro, cinco, seis músicas. Até a chuva já cessou, mas as memórias não davam trégua, a saudade não desistia, e o aperto no peito só pedia mais e mais do que não se podia.
Como ele pôde? Era tão simples lhe dizer que nada fazia mais sentido, que estava a sonhar com outra pessoa, tão diferente dela. Como ele pôde, falar de sentimentos que talvez nunca tivesse sentido.
Pegou as chaves do seu carro. E saiu. Bateu à porta dele. “E se ela atendesse, o que lhe diria? E se não tivesse ninguém em casa o que faria?”
Ele abre a porta. Podia se sentir o cheiro do café casa adentro. Existiu o convite para que ela entrasse.
“Satisfeita por me trazer aqui, tola, sem sentido e sem nenhum discurso convincente?”  Discursava ela com a saudade.
Juntos tomaram um café, logo ela que odiava café. Nenhuma palavra foi trocada. Um abraço tomou conta, as xícaras foram deixadas na mesa, e a cama ainda arrumada os convidava. Nada fazia sentido,e é justamente a falta de sentido que torna tudo assim, tão verdadeiro.
Não espere o final da história, afinal, se tudo foi tão improvável desde o começo, não cabe a mim trazer o fim.

Olha

Olha você tem todas as coisas
Que um dia eu sonhei prá mim
A cabeça cheia de problemas
Não me importo, eu gosto mesmo assim
Tem os olhos cheios de esperança
De uma cor que mais ninguém possui
Me traz meu passado e as lembranças
Coisas que eu quis ser e não fui
Olha você vive tão distante
Muito além do que eu posso ter
E eu que sempre fui tão inconstante
Te juro, meu amor, agora é prá valer
Olha, vem comigo aonde eu for
Seja minha amante, meu amor
Vem seguir comigo o meu caminho
E viver a vida só de amor
 
Roberto Carlos

Da noite que não passou

Hoje o dia não quer amanhecer, e há muito que as estrelas já se foram deste céu. E já passaram horas e horas desde que a madrugada se foi, mas o dia insiste em ser noite. Deixa-se então de seguir o ciclo, quebra-se aí a rotina. Vive-se então como coração dos apaixonados, cheio de vontades. Mas uma hora há de amanhecer, afinal, acordaremos algum dia. 

Só levanto quando o mundo clarear. 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Sutilezas

Não teimo em perguntar sobre a vida de alguém, com a pretensão de que com respostas saberei tudo a respeito dela. Palavras não são tão reveladoras assim. Tantos "eu te amo" já foram ditos para quem não se amava. Tantas palavras ácidas foram ditas para quem queriamos bem. Palavras já não dizem nada, são apenas desabafos momentâneos, que correm o risco de serem mentiras inventadas, recriadas ou até mesmo sem intenção.

Sendo assim, a verdade é descoberta com sutilezas. Quer saber se te amo? Repare nas entrelinhas... no não dito. Como meu sorriso se mostra quando te vejo; como meu corpo teima em encostar no seu; se as pupilas dilatam e se fico sem graça quando falamos de amor; se me informo a respeito das coisas que você gosta apenas para tornar a conversa atraente. É simples. É tão simples reconhecer gestos, e as pessoas teimam em sofrer por palavras. Tanto pelas ditas, como as não pronunciadas.

Deixe que os olhos falem. Que o coração enxergue. E que o amor SENTIDO pulse vida.
Só vejo beleza no que me fala sem som algum.

Analgésico

Foi quando eu percebi que ele não brincava quando dizia que eu era o remédio das dores e tristezas dele. Isso era literal. Meu sobrenome deveria ser analgésico. E eu não me orgulho disso, afinal, quem quer ser esquecido em uma gaveta qualquer depois que tudo fica bem?
O passado simplesmente não existe mais. Não existe promessas, nem atitudes, nem algo concreto do que passou. Passado é memória, e memória cada um sente... apenas as suas. 
Não existe futuro. Não existe aquele amor por se realizar, aqueles objetos a comprar, a viagem por fazer. 
Existe apenas o hoje. Meu presente.O presente... a única coisa segura em minha vida. O segundo depois já não me pertence... 
E por pensar assim eu sempre me arrisco a dizer o que sinto, eu sempre vou para os braços que desejo, eu sempre levanto vôo, caio, me machuco, mas vale a pena por cada sorriso meu, por cada sorriso seu, por cada momento nosso.





terça-feira, 16 de agosto de 2011

Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar.
 
Caio Fernando de Abreu
 
Obs.: só porque agora sinto cada linha diferente. 
 

domingo, 14 de agosto de 2011

Noite da angústia

Como explicar que eu abriria mão de todos os meus sonhos mais doces, construídos ao longo de tantos anos, para que pudessemos juntos fazer planos? Como me olhar no espelho e não me sentir uma boba, se todas as vezes que pretendo brigar, te mandar embora e sumir da sua vida, eu sempre rio da primeira piada e acabo tornando a declarar sentimentos que você tanto conhece. Como não perder o foco entre uma atividade ou outra se as músicas sempre acabam me lembrando você... se os lugares são tão convidativos à nossa presença... se o beijo ainda está na espera e os braços continuam vazios...
Dessa vez não é nostalgia do que passou. Dessa vez não foi saudades. O que me ataca e me corrói é a angústia de quem espera.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Cantando sentimentos...

♪ For you I was a flame
Love is a losing game  ♪

Eu só sei que continua doendo...
E eu nem tenho tempo de chorar. Tem sempre alguém correndo para o meu ombro, já em prantos, insistindo e implorando consolo. E o meu choro sempre fica pra depois.

Já não me surpreendo se acordo pensando em você. Já me acostumei com essa maneira tão desigual de demonstrar carinho. Já não queria mais acreditar em mentiras e ter que juntar sozinha todos os pedaços do meu coração, que até já se confundem com toda a sujeira do chão... já não sei o que juntar para colar, se sempre acho que falta uma parte para completar... 

Eu sempre achei que para entender uma dor, bastaria uma outra pessoa que sentisse a mesma dor. Engano meu... até elas próprias podem esquecer o que é sentir, pelo simples prazer de ver uma outra pessoa devota, sincera, parada, pedindo em frente a ela: - Me dê atenção, porque eu te amo... e eu não estou brincando. 

Eu implorei você rindo pra mim. Eu implorei você compartilhando sua vida comigo. Eu implorei você como amigo, amante, ou em qualquer status de relacionamento ainda por inventar. Eu só sei o que eu queria. 

E agora só resta vestir-me de saudades, de ironia, um pouquinho mais de malícia, e recomeçar... como tantas outras vezes nessa estrada.

Olha insistentemente para a escada. Me vê de longe. Vai subir, mas hesita.
Eu corro ao encontro dele: - Oi tio!
Eu nunca o havia chamado de tio! Impulso? Não sei...
Nos abraçamos. E esse abraço foi tão diferente. A gente se sentiu nele. Meu velho tio... que me carregou nos braços  e compartilhou tantas e tantas festinhas de aniversário ao meu lado. Boa pessoa. Eu não sei o que esse abraço quis dizer, eu só sei que disse muito. Talvez por isso eu tenha comentado com umas três pessoas depois, essa sensação tão forte de carinho nesse abraço demorado.
E no dia seguinte Deus quase te levou de mim. Não! Não agora! A falta me dói tanto... logo agora que eu enxerguei tanto amor na figura deste homem... 


Obs.: Torço pela sua recuperação :/ Volta logo pra outro abraço...