quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sobre anjos que se foram

Deus enviou à terra, assim como muito outros, um de seus anjos mais amados, porém a este não entregou suas asas. Ele teria que consegui-las sozinhas durante sua missão terrena, e depois voltaria ao céu.
Inconformado o anjo teve que suportar a solidão dos dias em terra firme; aprendeu forçadamente sobre todos os sentimentos humanos; e sofria com essa constante saudades de se ver livre como os pássaros que voam... feliz como os pássaros que cantam.

A única forma de tratar sua alma, o único meio de cuidar do que há de mais íntimo, foi a música. Nestes momentos de nostalgia em que fechava os olhos para se deliciar com cada nota musical, ele se mostrava em êxtase. O som... as tão poderosas melodias capazes de fazer sentir mais do que as batidas de um coração. Sentia um aperto de leve, e entendia apenas agora todas as almas humanas que vez ou outra cantavam sua dor. Música é isso, o desabafo que não conseguimos falar, e só com a melodia ele pode soar menos trágico, mesmo que a voz saia um pouco carregada, embargada de emoções.

Acompanhando a música o anjo encontrou no álcool a verdade dos sentidos. Por mais que ele perdesse a razão, o que vinha como conseqüência era a emoção, de dar vazão ao que de fato ele veio. O anjo que sem asas era triste. Que sem sua verdade tornava-se mascarado... e pior de tudo é que a máscara tentava esconder apenas dele mesmo tudo o que ele já fora, e tudo o que agora passara a ser.

Eu conheci esse anjo. Eu o amei. Amei a partir do momento que entendi todas as vezes em que ele me dizia que não estava bem, mesmo não sabendo me explicar. E com a mesma intensidade que ele sentia falta do céu azul, eu senti a falta dele.

Falei do amor que sentia, expliquei os sintomas... e minha surpresa foi inevitável quando ele me disse estar padecendo deste mesmo bem. Ele também me amou, e não importa se foi com a mesma intensidade, com o mesmo furor, amor é amor, e não há nada mais belo do que o sentimento em si.

Nesta nossa vida terrena nunca buscamos os holofotes dos palcos, nem os aplausos dos amigos a quem tanto servimos, vivemos sempre nos bastidores, invisíveis como anjos, a plantar sementes de bondade e conquistar amigos, que se fizeram presentes às centenas no instante em que finalmente não apenas ele, mas nós recebemos asas para voarmos como sonhamos um dia...

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