quinta-feira, 2 de junho de 2011

Doar-se

Sentada na calçada, ainda menina - apesar do rosto demarcar mais idade.
A vida não parecia ser muito justa com aquela pequena que sempre sentiu falta de... Falta de um irmão que lhe defendesse dos maiores; falta de uma refeição; falta de um lugar seguro...
Mas hoje já não fazia tanto frio, ela já não sentia tanta fome. A vida nas ruas a ensinou a lidar com todas as faltas e apesar da pouca idade a conhecer os tipos humanos. E mesmo sem nenhum conhecimento em psicologia ela percebia que mesmo as pessoas que passavam de um lado para outro e nem a notavam, traziam uma angústia no olhar. E mesmo não entendendo de matemática ela sabia que muitas vezes quem muito tem não divide e quem pouco parece ter tem a capacidade de doar. E mesmo não conhecendo os mistérios do Universo ela aprendeu que o céu é cheio de beleza e pode até mesmo fazer toda a diferença em uma noite triste. E mesmo não sabendo ler dedicava algum tempo do seu dia olhando as capas das revistas na banca em frente à padaria.
Já não existe medo, nem mesmo choro por não conhecer ninguém nas ruas. Adaptar-se não foi uma tarefa fácil, mas lá estava, sentada na calçada, com olhar fixo a lugar nenhum.
Não se importava de ter a comia quente do restaurante, nem mesmo o brinquedo iluminado da vitrine. Nada disso causa tanto vazio quanto a falta de amor, de um afago, um beijo de boa noite... nem que fosse só por uma noite.
Olha de um lado a outro. Já é tarde. As ruas estão vazias, muitos já dormem. Levanta-se apressada, com uma expressão de preocupação. Corre, corre... O que causaria tanta pressa se ninguém a espera? O que a faria se desesperar se não haverá ninguém a se preocupar se ela está tarde nas ruas?
Olha para um canto da praça central, e lá estava ele, seu cachorro companheiro.
Porque mesmo sem receber, ela sabia que tinha muito a oferecer.

" Não hesite em doar-se, pois o mundo só necessita do olhar atento do amor"

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